24 julho 2008

Maria Eulina - Uma Lição de Vida




Maria Eulina

De moradora de rua a mulher executiva, presidente de uma ONG. A incrível trajetória de Maria Eulina Reis Silva!

Mariana Sant'Anna

A história de vida de Maria Eulina Reis Silva não deixa dúvidas de que ela não é uma pessoa comum. A presidente e fundadora da ONG Clube de Mães do Brasil cresceu em uma fazenda no interior do Maranhão, morou nas ruas de São Paulo por quase dois anos, casou-se com um executivo poderoso e hoje cuida de adultos e crianças que precisam de ajuda. Todos os dias 48 crianças ficam na entidade depois que saem da escola e enquanto os pais estão trabalhando.

Maria Eulina é uma pessoa simples. Trabalha vestindo calça de moletom, camiseta e tênis, brinca com as crianças e se envolve em todas as atividades da casa. A sua força de vontade transparece no olhar, que brilha ao falar de sua vida e do trabalho que realiza, e só se recolhe ao se lembrar do marido, que morreu em 2000. Seu dia-a-dia é colocar a mão na massa para fazer a ONG andar, principalmente nas atividades rotineiras. Sair em busca de patrocínio não faz seu perfil. Para ela, seu trabalho deve comover a sociedade, e as empresas devem procurá-la para apoiar o Clube de Mães, e não o contrário. E nem as dificuldades financeiras pelas quais a entidade passa fazem Maria Eulina mudar de idéia: sua missão é construir.

Valores
"Hoje em dia todo mundo se preocupa em ganhar dinheiro. Mas não é isso o que mais falta no planeta. Nós precisamos de mais valores humanos, de uma maior cidadania espiritual. O que pode fazer nosso mundo melhorar é partilhar a humanidade, e não o nosso bolso, porque o ser-humano tem uma missão muito maior. Não me preocupo com as riquezas materiais: a minha viagem é viver meu dia-a-dia. Tudo isso eu aprendi com meus pais, meus avós. Os valores que eles me ensinaram eu sempre guardei. Tanto que, mesmo morando nas ruas, eu nunca roubei, não me prostituí, não mexi com drogas. Eu devo isso à minha família.

Educação
"A educação mais importante que a gente tem é a que se recebe em casa. É a educação dos valores, ética, moral. Ela não depende de classe social. A pessoa pode ser muito rica, mas se crescer em um ambiente podre, vai ser uma pessoa sem valores. E pode ser pobre e ter uma família que ensina valores. Essa educação é a mais importante, porque é a partir dela que se pode escolher a educação profissional. Por isso meu trabalho é focado na infância. Antes eu trabalhava mais com moradores de rua, mas via que, mesmo que eu fizesse muitas coisas, continuavam aparecendo mais e mais moradores de rua. Então eu descobri que o melhor trabalho é com as crianças, porque elas terão a chance de não pararem nas ruas."

Anjos
"Eu morava nas ruas e um dia, estava no Parque Dom Pedro e um carro quebrou na minha frente. Uma mulher desceu do carro e eu vi que ela estava muito brava. Então fui conversar com ela, e ela se acalmou. Era a Vânia. Ela me perguntou se eu queria ir para a casa dela, e eu aceitei na hora. Vi que era a minha chance de sair das ruas. A Vânia foi um anjo que Deus colocou na minha vida. Ela percebeu que eu tinha uma formação, que eu poderia trabalhar, e me levou para a empresa em que ela trabalhava, a Vigor. Ela era secretária e eu virei telefonista. Foi lá que eu conheci o Alex. Ele era executivo. Foi outro anjo que Deus colocou no meu caminho. Ele me apoiou muito, devo a ele a vida que eu tenho como mulher de iniciativa."

Vale quanto pesa
"Vivendo nas ruas, eu descobri que, para a sociedade, você vale o quanto você pesa. E o seu peso é medido em dinheiro, na sua conta bancária, no ouro, no diamante que você tem. Eu observava todo mundo, principalmente na época de Natal, com todas aquelas sacolas nas mãos, fingindo ser quem não eram para agradar os outros. Vi muito desperdício. Me alimentei do lixo, e eram muitas sobras. Então um dia, debaixo de uma ponte, eu pensei: Deus, se um dia você me tirar daqui, eu quero ser sua funcionária Quero trabalhar em benefício da obra humana. Hoje eu acho que faço só um pouquinho do que eu posso fazer, e não sei se vou ter tempo de realizar mais. Mas tudo o que eu faço é para o futuro, nada é imediato. Mão na massa Faço todos os trabalhos de que o clube precisa. Limpo peixe, costuro, limpo salas. Não quero me distanciar dessa troca de sentimentos que eu tenho com as pessoas que eu ajudo, que eu procuro ajudar. Eu poderia sair em busca de patrocínio de empresas, mas acho que o meu trabalho mais importante é aqui dentro do Clube de Mães. Não sou eu que tenho de ir atrás. As pessoas e as empresas que têm de ver o trabalho que nós desenvolvemos aqui e vir nos oferecer ajuda. Por isso eu faço muitas palestras, sobre cidadania e responsabilidade social: para ajudar a divulgar e manter o trabalho que nós fazemos. Parceiros Não temos patrocinadores fixos. Algumas empresas nos ajudam em ocasiões especiais, como no Dia da Criança. Temos uma parceria muito importante com o Senai, já capacitamos 66 mil pessoas. São moradores de rua que passam por uma triagem e fazem os cursos de graça. O nosso lema é não dar o peixe, mas ensinar a pescar, por isso nos preocupamos em profissionalizar as pessoas que ajudamos. Mas meus maiores parceiros são as pessoas que trabalham comigo. Eu fico sem dinheiro, atraso o pagamento, mas elas não deixam de vir aqui, todos os dias e me ajudarem a fazer isso andar.

"Para entrar em contato com a ONG:Site do Clube Mães do Brasil ou pelo telefone (11) 3662-1444 (11) 7424-3112.

Matéria publicada no portal IG Mulher em Março de 2008
Texto enviado por Martino Buzzetti

Postado por Renato Baptista

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